30/01/08

O anjo da guarda

Numa fria manhã de Inverno,
Um velho professor de filosofia
Caminha assustado pela minha rua,
Como se tivesse pressa para chegar
Ao fim do cruzamento desta poesia.

Caminha com passos compadecidos,
Lentos mas ansiosos por encontrar
O velho anjo da guarda perdido
Por entre os anos que escaparam
E que jamais conseguiram parar.

A enorme rua ruidosa foge aflita
Ao ver as nuvens descerem do céu
E poisarem nas longas barbas frias
Da sombra vagarosa do seu professor
Coberto com um branco e frágil véu.

Ninguém vê um rapaz moribundo
Atravessado no meio do passeio,
Mas alguém pega nele e embala-o
Até enfim ouvir o último suspiro
Do anjo da guarda que afinal veio.


Julho, 1994 ©