28/02/08

Outono

Naquela quieta tarde adormecida
A vida despertou dum longo sono:
Brotaram folhas da terra despida
E o vento varreu uma alma caída,
Que renasceu com aquele Outono.

Surgiste na melancolia paciente
De uma aragem pacífica e fria.
O teu gesto, sereno e ardente,
Despiu as àrvores suavemente
E cobriu o silêncio de poesia.


Outuno, 1993 ©

15/02/08

Tu e eu

Tu foste a manhã de um dia
Que nunca chegou a amanhecer.
Eu fui uma noite escura e fria
Que teve uma ingénua fantasia
Onde tu não me vias escurecer.

Tu sonhaste uma suave sinfonia
Em que me escutaste alvorecer.
Eu sonhei que afinal distinguia
Se eu não vivia ou nunca te via,
Se havia de nascer ou morrer.

Tu inventaste uma clara alegria
Que fez a minha sombra tremer.
Eu inventei uma afogada agonia
Que manifestava o que eu sentia,
Mas que nunca soubeste entender.

Tu apagaste o sol daquele dia
Porque me querias ver florescer.
Eu apaguei a paixão que me ardia
Porque a tua luz tem a harmonia
Que a Vida nunca poderá perder.

Agosto 1993 ©

04/02/08

O cego da Boavista

Um velho destroço abandonado
Sobe a sombria rua enoitecida
Em busca dum leito desabitado
Na reles esquina ali ao lado,
Perto da longa e larga avenida.

Derrama a alma sobre o chão
E cobre o corpo com um jornal.
Adormece sem sentir a contrição
Com que se arrasta a civilização
Desde que criou o bem e o mal.

Sonha no silêncio da fantasia
De um lugar que nunca se avista,
E acorda com o brilho da poesia
Da lua que o baptizou um dia
De "o cego da Boavista".

Nem sequer vê a àguia devorada
Por um leão frenético e faminto,
No monumento da rotunda parada.
Mas sente a visão fria e calada
Daquele vencido animal extinto.

A mãe madrugada nasce num jazigo,
Porque a noite gelada e piedosa
Levou o seu amado filho consigo:
A alma livre subiu a um abrigo
E deixou o cadáver na rua irosa.

Do meio da multidão indiferente
Irrompe um rosto sem expressão
Despindo o casaco caro e quente,
E cobrindo o seu professor ausente,
Que acaba de dar a última lição.


Dezembro, 1993 ©

30/01/08

O anjo da guarda

Numa fria manhã de Inverno,
Um velho professor de filosofia
Caminha assustado pela minha rua,
Como se tivesse pressa para chegar
Ao fim do cruzamento desta poesia.

Caminha com passos compadecidos,
Lentos mas ansiosos por encontrar
O velho anjo da guarda perdido
Por entre os anos que escaparam
E que jamais conseguiram parar.

A enorme rua ruidosa foge aflita
Ao ver as nuvens descerem do céu
E poisarem nas longas barbas frias
Da sombra vagarosa do seu professor
Coberto com um branco e frágil véu.

Ninguém vê um rapaz moribundo
Atravessado no meio do passeio,
Mas alguém pega nele e embala-o
Até enfim ouvir o último suspiro
Do anjo da guarda que afinal veio.


Julho, 1994 ©

01/11/07

Sonho inquieto

Numa breve manhã da minha vida
Julguei sentir a tua luz penetrar
Pela penumbra da alma escurecida
Que eu nunca consegui iluminar.

Surgiste numa aragem destemida
Que soprou um enigma desfeito;
E quando olhei a tua mão estendida
O meu pecado tornou-se perfeito.

Lamentei que não estivesses perdida
No sonho inquieto daquele meu dia,
Mas louvei essa ilusão adormecida
Que despertou a tua serena harmonia.

Sempre que tu descobres a vida
Eu vejo a minha cegueira invisível,
Mas entendo a poesia indefinida
Que tu sentiste nesse dia insensível.

Abril 1994 ©

29/10/07

Não existes

Hoje descobri que tu não existes,
És apenas uma fantasia disfarçada,
És escuridão vestida de madrugada.
Por isso nunca mais adormeças aqui,
Não digas que tens saudades minhas,
Nem regresses para depois partires.

Pensas que este poema é sobre ti,
Só porque trazes um sonho antigo
E levas toda a minha vida contigo.
Mas lembra-te que nunca exististe,
Por isso não mostres o teu sorriso,
Nem te aproximes assim de mim.

Só gostava de te conseguir ver
Perdida no meu olhar cansado,
Estendida sobre o meu corpo deitado.
Eu bem sei que tu não existes,
Mas não me deixes aqui perdido,
Que eu não sei existir sem ti.

Agosto 1994 ©

27/08/07

A única vez

eu sinto alguma coisa por ti e não sei bem o que fazer, tenho pegado no telefone mil vezes ao dia mas não tenho tido coragem de marcar o teu número, não sei o que pensarias se te dissesse nem sei o que faria se dissesses aquilo que penso que não farias, não sei porque me tenho sentido assim, não tenho dormido ou comido direito, sei que sinto algo por ti e não sei bem o que fazer

quando encontrares um homem minha filha certifica-te que ele é real não te deixes levar pelos sentimentos o amor não é um jogo nós as mulheres somos o sexo forte nunca te deixes abater

as palavras da minha mãe ainda me ecoam na cabeça como marteladas no ferro mas ao fim destes anos todos ainda passo o meu tempo a sonhar com alguém que me faça sair deste pesadelo, passo horas incontáveis a imaginar como seria se fosses tu aquele por quem espero, o tempo esvai-se em dias intermináveis e ainda não sei se passas algum minuto a pensar em mim

ele não vale a pena há mais peixes no mar concentra-te naquilo que é melhor para ti ele não tem nada para te dar devias falar-lhe duma vez por todas não sei porque perdes o melhor da vida a acreditar num amor impossível

as minhas amigas têm resposta para tudo e parecem sempre certas de tudo o que dizem, mas a única coisa em que realmente acredito parece ser a única coisa que faz sentido nesta vida, sei que já me apaixonei um milhão de vezes e por um milhão de vezes disse que aquela era a última vez, mas esta é a vez que importa

20/08/07

O nosso caminho

Agora só nós é que caminhamos
Com esta certeza de nunca duvidar
Que não sabemos para onde vamos,
Nem sabemos se iremos voltar.

Agora só nós é que esculpimos
A estrada que esperamos encontrar
Entre o sonho que nunca reflectimos
E o pesadelo que tememos espelhar.

Agora só nós é que sepultamos
O atalho por onde vamos a cantar,
Pois percebemos que procuramos
Algo que nunca poderemos encontrar.

Subitamente já não existimos
No espaço extinto deste lugar,
Mas existe a poesia, que sentimos;
E a vida, que vivemos a voar.

Existe a bravura, que desbravamos;
O medo, que temos o terror de recear;
A alegria, em que agora duvidamos;
E a tristeza, que nos olha a chorar.


Julho, 1994 ©

14/08/07

Deus e o Diabo

Naquela noite encontrei Satanás. Não é feio, ao contrário do que dizem. Falou-me de coisas do quotidiano, de coisas vulgares que se ouvem todos os dias na televisão e nos jornais. Falou-me dos desejos e ansiedades das pessoas, das pequenas verdades e das grandes mentiras, dos segredos submergidos no fundo das mentes e que voltam à superfície como monstros marinhos para assombrar a sanidade dos fracos.

Contou-me que ele é o bom da fita e que Deus só dá sofrimento acrescentando ainda culpa e remorso. Fez-me ver que o inferno não tem esses preconceitos divinos e que portanto é um lugar muito melhor do que a vida terrena. Foi a partir dessa noite que fiquei a saber que o Diabo é mais piedoso do que Deus.

Mas não quis acreditar na maior parte das palavras que ele me tentou impingir. No meio das divagações tratou sempre o amor como se fosse algo comercializável, como o sexo ou o prazer instantâneo. Eu não acredito nisso, não posso acreditar. Porque apesar de tudo isto que tenho na cabeça, de todo o mal que fiz e que penso e que me acompanha, do ódio, da revolta e da sede de vingança – apesar de tudo isto, ainda penso em ti.

Tu sempre estiveste na minha alma. Tu, pura e inatingível, intocável e delicada, sensível e dedicada. Tu, diferente de todas as coisas más que me acompanharam desde sempre. Não é possível que algo tão belo e verdadeiro pertença a outro sítio sem ser o céu. E se eu penso sempre em ti e tu fazes parte de mim, quer dizer que ainda há esperança.

Naquela noite encontrei Satanás. Não é feio, pelo contrário, é bonito. Tens uns olhos profundos, misteriosos, assustadores só para quem não os conhece tão bem como eu. Quando penso nos teus olhos, lembro-me de quando te fiz chorar. Nunca te tratei como deveria, ou amei como poderia, nem nunca te dei a paz que sempre mereceste. Nunca tive tempo para dizer aquelas pequenas coisas que tu tantos gostas e que só agora me parecem tão importantes. Tu sempre estiveste na minha alma.

Naquela noite encontrei Satanás. E só agora notei algo. Satanás és tu.

12/08/07

Olhar oculto

Tu és aquela perfeita poesia
Que eu nunca conseguirei criar,
E que só a furiosa harmonia
Da tua alma consegue espelhar.

Ambos nascemos na noite fria
Em que o sol parou de brilhar,
E em que a lua fez a fantasia
Que eu nunca soube sepultar.

Juntos existimos na alma unida
Com que exploramos a rua deserta
Em busca da liberdade indefinida
Que guardas numa prisão incerta.

Esta é a altura da despedida,
Porque o ciclo da vida desperta
Sempre que tu estás adormecida
Sobre a minha sepultura aberta.

A noite desfalece serenamente,
Mas mesmo assim eu acredito
Que tu vais viver eternamente
No olhar oculto deste meu grito.

Agora a manhã nasce impaciente
E o sol repete o gesto infinito
Que eu persegui desde sempre,
E que mora na alma onde habito.

Março 1994 ©

25/07/07

Regicídio

1 de Fevereiro. O sol brilhante do dia de Inverno torna as cores mais alegres e o frio aconchegante faz as pessoas sentirem-se mais vivas. O rio, resplandecente e pacífico, abafa a azáfama que vem da baixa da cidade. Ali ao lado, perto dos grandes edifícios dos homens, meia dúzia de crianças brincam descontraídamente.

As meninas, com casacos apertados com folhinhos, saias compridas até aos pés e um chapéu a condizer, desfilam pelo passeio como se mil olhos estivessem a olhar para cada gesto seu. Os rapazes, com colete, relógio de corrente no bolso, bengala e chapéu alto, conversam sobre a menina mais bonita de entre as que passam. Para os lado da baixa, as vendedoras da rua berram com todas as forças para que todos vejam como o peixe é fresco.

Entretanto, carroças passam devagar, apreciando o belo dia que Deus ofereceu às Suas criaturas. Os cavalos fazem aquele som tão característico dos cascos a baterem no solo e as rodas dos veículos gemem por entre os sulcos da estrada. No interior duma das carroças, está uma família vulgar: pai, mãe e seus filhos. Conversam animadamente sobre todas as coisas que as famílias felizes costumam falar. O barulho silencioso deste cenário encantador só é interrompido pelos gritos das gaivotas, indiciador de que algum barco de pesca está quase a chegar.

De repente, o inesperado acontece. Um homem sai do meio da multidão e aponta uma arma à família feliz que passeava na carruagem. Tiros ouvem-se, os pássaros fogem, as pessoas entram em pânico, o medo instala-se em todos. De repente ouve-se, “Mataram o pai e o filho”.

Corajosa, cheia de sangue, a mãe levanta-se e olha furiosa para o carrasco do marido e do filho. O outro filho olha horrorizado para os cadáveres do pai e do irmão. Em câmara lenta, o rapaz vê as suas roupas cheia do sangue daqueles que ama, mas não tem lágrimas que o façam chorar de desespero. A mãe conforta-o, clama por ajuda, pede a Deus que venha dos Céus para remediar aquele estrondoso mal.

“Mataram o pai e o filho”. A nação ficou órfã porque, desgraçadamente para todos, não era uma família vulgar. O trauma não ficará só sobre o filho e a mãe, ficará sobre todos os filhos da Nação, geração após geração.

“Mataram o pai e o filho”. Lisboa nunca mais será a mesma, o país nunca mais será o mesmo. Passadas décadas e décadas, Portugal ainda chora aquele sol brilhante num dia de Inverno.

Outubro de 2003 ©

22/07/07

Escuridão

Olá, escuridão minha amiga,
Venho visitar-te novamente
Porque és tu quem me abriga
Quando eu me estou ausente.

A tua sombra já é tão antiga
Que até nem sonho claramente
Neste pesadelo que me obriga
A estar acordado e descontente.

Desculpa chamar-te assim
Mas se a tua luz é escura,
Isso não me importa a mim,
Que venho da minha sepultura.

Agora estou distante de onde vim
E vejo-te inocente, serena e pura,
Caminhando comigo até ao fim,
Eternamente à minha procura.

Janeiro 1994 ©

19/07/07

Noite de Verão

Lá fora a rua anoitecida está deserta, carros passam a toda a velocidade e deixam um rasto de sabor a borracha quente, gaivotas berram alto do cimo de um telhado perto da minha janela. As aves deprimidas queixam-se de um tragédia que aconteceu ali ao lado, há séculos atrás – e eu queixo-me da humanidade, das emoções infantis, da medíocridade mesquinha, das antipatias quotidianas, de tudo e de nada, do barulho da televisão que insiste em continuar ligada e dos irritantes motores metálicos dos automóveis que massacram propositadamente os meus nervos.
Os berros estridentes aumentam cada vez mais e duvido agora se serão mesmo gaivotas, porque o choro aflitivo parece-se mesmo com o de crianças. Prefiro pensar que são aves, fugidas de um mar demasiado revolto, procurando sossego no local errado e protestando alto, com a coragem que não tenho, do egoísmo feroz de todos os homens. Indiferentes, carnívoros e furiosos, os carros insistem no ruído torturante que chega até mim pela janela que me recuso a fechar.
Deitados na minha cómoda, um aglomerado de livros espera que os acabe, mas resisto à tentação de ler sobre tudo aquilo que conheço bem demais. A miséria, o sofrimento e a culpa são temas que povoam a minha mente durante os segundos que passo acordado e as horas que tento dormir. Porque me perseguem estes escritores malditos? Do norte e do sul, do oeste e do leste, vêm todos ver a minha carne a envelhecer lentamente e um espírito apodrecido, que julgo também ser meu, a clamar por piedade aos deuses de ontem, hoje e sempre.
A minha mente está cansada, mas pior está o meu espírito moribundo. Tenho cada vez menos esperança que seja curado num toque milagroso, mas a teimosia masoquista da minha alma não deixa que tudo se vá. A paz vai ter de ficar para outro dia. Hoje continuarei a chorar, em silêncio, mil lágrimas de uma tristeza sem nome. Não me lembro como tudo começou, mas deve ter estado aqui desde sempre, porque não recordo nada antes. Gostava de ter uma amnésia que principiasse agora, neste instante, apagando as más memórias, as frustrações antigas, os desejos recalcados, os sonhos desfeitos – e esta vontade primordial de morrer.

Agosto 2004 ©

13/07/07

Ainda

Eu ainda estou aqui escondido
Na tristeza muda do meu olhar,
A pensar naquele mundo perdido
Em que me cansei de te procurar.

Agora sou um pesadelo perseguido
Pelo sublime sonho de imaginar
Que a noite em que tenho vivido
Será o dia em que te vou criar.

Sai da manhã desse novo dia,
Se por acaso tu até existires,
Para eu partir na tua harmonia
E para do meu ocaso te despedires.

Se fores uma infeliz fantasia,
Apenas te peço para extinguires
A paixão desta impulsiva poesia,
Que eu sonhei para tu a sentires.

Maio 1994 ©

11/07/07

Fugir

Fugir daqui foi sempre um bom plano, ir para outro lado qualquer onde o céu é mais azul e as àrvores mais verdes. Sempre tive a sensação que pertencia a um sítio diferente, com um lago melodioso a refrescar um dia completamente limpo, um cheiro a natureza sem mamíferos e um vento reconfortante a inundar-me o corpo com um toque carinhoso.

Esta imagem animada vem repetidamente ter comigo. Existe uma segurança perfeita que vem da convicção absoluta que pertenço ali, naquele momento e até quando eu quiser. Não vai anoitecer tão depressa mas, quando começar a ficar escuro, irei para uma pequena cabana de madeira com enormes janelas que me deixem ver a infinidade de estrelas que esperaram por mim todo o dia. A cama será um pedaço macio de algodão que irá abraçar-me e proteger-me sem me tocar. O silêncio não será pesado e vou finalmente poder adormecer em paz, porque sei que não terei mais pesadelos.

Nunca duvidei de que um dia teria de tomar a tal decisão: ir embora hoje mesmo, ou viver aqui, morrendo. Sou um estrangeiro neste sítio, sempre o fui - emigrei há muito tempo, mesmo antes de ter nascido. Não sei quem são as pessoas que estão à minha volta e já estou cansado de tentar entender tudo aquilo que não me querem dizer.

Dezembro 2004 ©

16/02/07

Viagem por Mundos Imundos

Irrompem divinos diabos diabólicos
No cume da Montanha Sagrada,
Adormecendo os sonhos utópicos
E despertando a existência limitada.

A liberdade chora pelos condenados,
Que satânicamente podres e saturados
Inspiram sofrimento e infelicidade
E expiram as virtudes da Verdade.

Ninguém acode os desgraçados...
Lamentam o dia em que sonharam
E tentam arder a Vida que queimaram
Entre mundos imundos e enterrados.

A Vida nunca mais será vivida
- Nem que um dia Deus o queira -
Porque na Grande Montanha Perdida
A Verdade já não é verdadeira.


Fevereiro, 1994 © 

11/02/07

Viagem por outros caminhos

No caminho sereno da harmonia
A Verdade observa o vulto original
Mas não escuta a perversa profecia
Que prefila uma silhueta infernal.

O céu torna-se pequeno e abafado,
As núvens ardem num fogo gelado
E infestantes e infinitos invernos
Invocam o nome da dor dos infernos.

A súplica expira uma frieza interna
Que gela os mais profundos sentimentos
- Apenas se ouvem choros e tormentos
Pedindo que a eternidade não seja eterna -.

A sombra de satã surge definida
Entre a luz da claridade decadente
E a escuridão do trono da Vida,
Que nunca viu o Deus benevolente.

Fevereiro, 1994 ©

01/02/07

Viagem a dois destinos

Num sítio imenso para além do céu
Existe a Grande Montanha da Vida.
Num sonho intenso para além do meu
Permanece viva a Verdade Prometida.

Numa visão livre e primordial
Deus escuta o Bem e o Mal,
Mas sente a claridade invisível
De um insano sonho insensível.

Distante desse destino delirante
Existe um servil ser sepultado
Num frágil mundo falsificado
Que ele julga mover para diante.

Ele é um morto àvido de vida,
Um espírito escravo dum espelho
Onde se vê a escuridão reflectida,
Mas que ele crê ser um Deus velho.


Fevereiro, 1994
© Diogo Dantas