12/08/07

Olhar oculto

Tu és aquela perfeita poesia
Que eu nunca conseguirei criar,
E que só a furiosa harmonia
Da tua alma consegue espelhar.

Ambos nascemos na noite fria
Em que o sol parou de brilhar,
E em que a lua fez a fantasia
Que eu nunca soube sepultar.

Juntos existimos na alma unida
Com que exploramos a rua deserta
Em busca da liberdade indefinida
Que guardas numa prisão incerta.

Esta é a altura da despedida,
Porque o ciclo da vida desperta
Sempre que tu estás adormecida
Sobre a minha sepultura aberta.

A noite desfalece serenamente,
Mas mesmo assim eu acredito
Que tu vais viver eternamente
No olhar oculto deste meu grito.

Agora a manhã nasce impaciente
E o sol repete o gesto infinito
Que eu persegui desde sempre,
E que mora na alma onde habito.

Março 1994 ©